domingo, 10 de julho de 2011

A visita do Papa João Paulo II ao Recife em 1980

João Paulo II no Recife, discurso em favor dos trabalhadores rurais.
Aquele 7 de julho de 1980, jamais será esquecido pelas pessoas que presenciaram ou assistiram pela televisão, como eu, que tinha apenas 16 anos e me recordo como se fosse hoje a emocionante visita do Papa João Paulo II ao Recife. Quais daquelas pessoas conseguem esquecer da memória aquela canção, cantada em toda parte do Brasil nos doze dias de visita de sua Santidade... A benção João de Deus este povo te abraça... Tenho recortes de jornais da época desta fascinante visita do Papa mais querido do Brasil. O Diário de Pernambuco em sua edição de 8 de julho de 1980, publicou todos os detalhes da visita de João Paulo II ao Recife e que eu coloco em meu blog em homenagem a toda comunidade católica de Pernambuco.

“O tapete vermelho foi estendido na pista de pouso da Base Aérea do Recife. Muito antes do avião pousar. O chefe do cerimonial  do Palácio do Governo, Augusto Rodrigues e um Oficial superior da aeronáutica se encarregaram da arrumação.
O Papa João Paulo II chegou ao Recife no horário previsto, desembarcando do avião presidencial que o conduziu de Salvador às 15h40, na chegada, a primeira autoridade a cumprimentá-lo foi dom Helder Câmara, a quem abraçou calorosamente, beijando-o, seguindo-se o governador Marco Maciel e esposa; o comandante do IV exército, general Florimar Campelo e esposa; o comandante do 2º Comar,  brigadeiro, Ciro Valentim e o comandante do 3º distrito naval, almirante Luís Edmundo Bitencourt. Em outra fila formada em sentido horizontal perfilavam-se o vice- governador Roberto Magalhães, prefeito do Recife Gustavo Krause, deputado Antônio Correia, desembargador Pedro Malta e o cônsul Kikos Wada, os quais, com as respectivas esposas, foram em seguida cumprimentados. Dez minutos depois, no papamóvel, iniciava o desfile em marcha lenta até o viaduto Joana Bezerra, onde oficiou a missa, no caminho o Papa não demonstrava cansaço. Sempre em pé no veículo ele abria os braços ou simplesmente acenava para a multidão e assim percorreu todo o trecho previamente isolado, sempre sorridente e cochichando com dom Helder Câmara. 
O caloroso abraço em dom Helder Câmara


Um espetáculo inesquecível para o povo de arraigado sentimento de religiosidade de Pernambuco e do Nordeste foi proporcionado, ontem, pelo Papa João Paulo II, que, depois de percorrer aproximadamente 25 quilômetros, da Base Aérea do Recife até o viaduto da Cabanga, na Ilha Joana Bezerra, acenando para uma multidão de dois milhões de pessoas que o saudavam, subiu ao altar onde rezaria a missa campal às 16h55, com dez minutos de atraso em relação ao programa oficial.

A vibração de cerca de 500 mil pessoas reunidas na área do estacionamento periférico Joana Bezerra (atualmente é uma área de lazer), que não paravam de cantar, aplaudir e acenar lenços e bandeirinhas, fez com que o pontífice, acompanhado do arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara, demorasse pelo menos 15 minutos para dar início a celebração. Com o mesmo sorriso e a mesma ternura que caracterizam. João Paulo II cumprimentou o povo que o aclamava, até que dom Helder pediu a palavra para apresentar a multidão ao Papa.
500 mil pessoas em Joana Bezerra, no Recife.


Aos gritos de “rei, rei, rei, dom Helder é nosso rei”, o povo recebeu a mensagem do arcebispo, que afirmou esta falando em nome de todos os que “não puderam vir aqui, de todos que acompanham sua Santidade pela televisão”. Lenços amarelos ( cores do Vaticano) transmitiam ao Papa a importância de sua visita. No final, entretanto, o povo estava cansado. Depois de um dia inteiro exposto ao sol, desconfortavelmente acomodadas, enfrentando dificuldades de toda ordem, as pessoas não conseguiam esconder os sinais evidentes de exaustão.

Novos slongs foram lançados, durante a longa espera, fazendo com que a multidão que gritava: “ João, João, João, houve um engano, além de polonês, você é pernambucano”, conseguisse passar o tempo com menos ansiedade. Muitas faixas foram abertas dando boas vindas ao Papa e grande parte delas chamava atenção de João Paulo para questão de ordem social.

Para esquentar os ânimos, do microfone surgiam a todo instante cantos e frases alusivas ao Papa. Mesmo não sendo seu aniversário, João Paulo II ganhou, inesperadamente, um estrondoso “ parabéns a você ”.

João Paulo II com um chapéu de palha despede-se dos pernambucanos
sempre acompanhado por dom Helder Câmara.
O Discurso de João Paulo II:

A terra é do homem porque ao homem Deus a confiou e, por seu trabalho, ele a domina. Afirmou, ontem, o Papa João Paulo II, na missa campal que oficiou na Ilha Joana Bezerra, citando o Gênesis, capítulo I, versículo 28. E arrematou “ Não é, pois admissível  que no desenvolvimento geral de uma sociedade, fiquem excluídos do verdadeiro progresso digno do homem precisamente os homens e as mulheres que vivem em zona rural, aqueles que estão prontos a tornar a terra produtiva graças ao trabalho de suas mãos e têm necessidade da terra para alimentar a família”.

Para quase as 500 mil pessoas que se comprimiam ao redor do viaduto do Cabanga para ouvir a voz do pastor, continuou o Papa dizendo que há 15 anos atrás, o Concílio Vaticano Segundo – A igreja tornando consciência de si mesma e do mundo – proclamava, referindo-se exatamente à questão que nos interessa: “ em muitas regiões, dadas as peculiares dificuldades no setor agrícola... importar ajudar os que se dedicam à agricultura, para que não fiquem reduzidos à condição de cidadãos de segunda ordem”, observando em seguida: “ E não é impensável que se vejam reduzidos a condição ainda bem menos nobres”.

O povo pernambucano ouviu sua Santidade em silêncio, enquanto João Paulo II prosseguia traduzindo o pensamento da igreja, ao considerar que a organização social está a serviço do homem. Ainda se referindo aos responsáveis pelo bem-estar da comunidade, disse o Papa que: “ As iniciativas que eles tornam, no constante ao setor agrícola, devem ser iniciativas em favor do homem, seja no plano legislativo, seja no domínio judiciário, seja ainda no plano da salva-guarda dos direitos dos cidadãos. Uma situação na qual a população, também a da zona rural, vê que sua dignidade humana é desrespeitada, leva à ruína, pois deixa o campo aberta a outras iniciativas, inspiradas estas pelo ódio e pela violência”.

João Paulo II disse também que o trabalhador da terra, como os trabalhadores de qualquer outro ramo de produção, é e deve permanecer sempre, aos próprios olhos dos outros, no plano dos conceitos e na ordem prática, antes de tudo pessoa humana: deve ter possibilidade de “ser mais” homem e, ao mesmo tempo, ser tratado de acordo com sua dignidade, e que possa tirar do mesmo trabalho os meios necessários e suficientes para fazer frente, com decência, as próprias responsabilidades familiares e sociais.

Neste ponto, enfatizou o Papa: “ Jamais o homem é mero “instrumento de produção”, para em seguida argumentar que assim, no seio de uma mesma comunidade política bem ordenada, justiça e humanidade não se coadunam nem se conciliam com um certo abuso de liberdade por parte de alguns; abuso ligado precisamente a um modo de comportar-se consumístico, não controlado pela ética, enquanto isso limita simultaneamente a liberdade dos outros, isto é, daqueles que sofrem notórias carências e se vêem empurrados para condições de ulterior miséria e indigência.

Nesta parábola – explicou João Paulo II – Cristo coloca-se do lado da dignidade humana, do lado daqueles cuja dignidade não é respeitada, do lado dos pobres. E passou a citar a bíblia: “ Bem- aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (MT. 5, 3) – Comentando em seguida: “ Sim, bem- aventurados os pobres, os de bens materiais que conservam, no entanto, sua dignidade de homem. Bem- aventurados os pobres, aqueles que, por causa do Cristo, têm uma especial sensibilidade por seu irmão, ou sua irmã, que padece necessidade; por seu próximo que é vítima  de injustiças; por seu vizinho que sofre tantas privações, inclusive a fome. A falta de emprego ou impossibilidade de educar dignamente seus filhos. E continuou: - Bem-aventurados os pobres, os que sabem se desapegar de suas posses e de seu poder, para coloca-los a serviço dos necessitados, para se comprometer na busca de uma ordem social justa, para promover as mudanças de atitudes necessárias a fim de que os marginalizados possam encontrar seu lugar à mesa da família humana.

Afirmou ainda, o chefe da igreja católica, no que diz respeito aos bens de primeira necessidade: alimentos, vestuário, habitação, assistência médico- social, instrução de base, formação profissional, transporte, informação, possibilidade de se distrair, vida religiosa – que impõe-se que não haja extratos sociais privilegiados. Que entre os ambientes urbanos e ambientes rurais não se verifiquem desigualdades clamorosas. Finalizou João Paulo II. O Papa embarcou às 08h00 do dia seguinte, para Belém do Pará, com escala em Teresina.” O Papa João Paulo II, iniciou sua visita ao Brasil no dia 30 de Junho por Brasília, depois Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida do Sul- SP, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Teresina, Belém, Fortaleza e Manaus, pronunciando 51 discursos.

IMAGENS INESQUECÍVEIS DA VISITA DO PAPA AO RECIFE


 João Paulo II desembarca na Base Aérea do Recife acompanhado pelo governador Marco Maciel e o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara. Foto: Jornal do Commercio do Recife/Blog do Fernando Machado.


Papa João Paulo II conversa com o governador Marco Maciel na Base Aérea do Recife. Foto: Diário de Pernambuco/Blog do Fernando Machado.
O Papa João Paulo II conversa com Dom Helder Câmara durante o percurso da Base Aérea do Recife até o estacionamento Joana Bezerra. Foto: Revista Veja
Os pernambucanos cantam " A benção João de Deus, este povo te abraça..." no estacionamento Joana Bezerra ( atualmente, tem uma academia da cidade, e é um ponto de retorno para Estação do Metrô). Foto: Revista Veja.
Fantasiado para ver o Papa. Foto: Revista Veja.
Católicos demonstraram sua fé durante a visita de João Paulo II, ao Recife. Foto: Revista Veja.
 No final da missa campal para 500 mil fiéis, muito foguetório em Joana Bezerra. Foto: Revista Veja.


 
Por: Jânio Odon de Alencar   /Blog Vozes da Zona Norte (DIREITOS RESERVADOS)
Fonte: Diário de Pernambuco, Revista Veja e arquivo pessoal.

13 comentários:

  1. Meu amigo eu paticipei desta grande celebração em 1980, jamais esquecerei na minha vida este momento de tanta fé. Cinco metros estive do papamóvel, foi um momento de muita fé e paz na minha vida. Tinha apenas 11 anos de idade mas não esqueço aquela multidão erguendo seus lenços e cantando a música "A benção joão de Deus nosso povo te abraça tu vens em missão de paz...

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  2. Minha mãe estava há 10 dias do meu nascimento e por isso, os seguranças permitiram que ela passasse pela segurança e fosse até o papa. João Paulo a abraçou, abençoou e tocou a barriga. Pode parecer loucura, mas até hj eu guardo uma sensação daquele encontro.

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    1. Não é loucura não Juliana, e sim, admiração pela personagem que é o papa. Um evento como a visita do papa, provoca grande emoção as pessoas pelo que ele representa.

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  3. A sensação que pude sentir aos meus 16 anos é indescritível....
    Emoção até hoje.
    Dom Helder passava em minha calçada na rua das creolas...
    <3 amor por demais

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  4. lindíssimo; difìcilmente se repetirá a apoteose....

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  5. Maravilhoso!!!
    Participei desta festa em meu leito .... doente e fiz um pedido para me curar.
    Tinha 32 anos...
    Estou com 27,agora.
    E ELE .
    COMO SANTO , ME CONCEDE HOJE
    UM NOVO MILAGRE QUE EU PEDI ANO PASSADO.

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  6. Foi um momento único, eu fui com meu esposo e minha filha de 4 anos, assistimos a missa, uma emoção que nunca irei esquecer.

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