domingo, 12 de novembro de 2017

Em 1975, a Escola Gigante do Samba perde o Tricampeonato para Estudantes de São José e entra em crise

1975- Passistas de Gigante do Samba eufórico na passarela do samba em busca do tricampeonato do carnaval pernambucano. Depois da apuração, só decepção. Para o Diário de Pernambuco a escola estava com um rei na barriga, disse o colunista social, João Alberto.


Em 1975, A Escola de Samba "Gigante do Samba" buscava o tricampeonato. Com fama, até hoje, de melhor escola de samba de Pernambuco. Gigante que a princípio teria como enredo uma homenagem ao sesquicentenário do Diário de Pernambuco, mudou de ideia e lançou outro enredo homenageando Olinda com o tema: "Olinda, seus costumes e suas tradições". Para compensar e não causar um mal-estar com o pessoal do Diário, que durante todo o ano publicou notas convocando os adeptos do samba a comparecer ao São Luiz Show, da Bomba do Hemetério, às sextas-feiras para prestigiar o tradicional sambão da escola. A Diretoria criou a ala do Diário que contou com aproximadamente oitenta funcionários fantasiados de típicos personagens olindenses. Doze garotas de tanga com as cores verde-branca fizeram evoluções à frente da ala.
Gigantes do Samba desfilou com 3 mil figurantes distribuídos em 150 alas e 10 alegorias. O grande destaque foi a fantasia do carnavalesco Múcio Catão, que ele havia desfilado no 3º Baile dos Vassourinhas, chamada de "A besta fera do apocalipse" que foi bastante criticada por fugir do tema do enredo, já que tinha um enorme dragão de sete cabeças, chifre e coroas. No corpo do animal, uma abertura por onde  o desfilante aparecia vestido com as cores da escola. Outros grandes destaques, foi a sambista Ana, do Alto do Pascoal, considerada a melhor sambista do Estado e o pessoal da bateria comandados por Maurício da Paixão, Luiz Amaro e o outro Maurício, que substituiu o conhecido Lavanca.
O orçamento da Escola Gigantes do Samba ficou em torno de CR$ 100 mil cruzeiros, afirmou Belo Xis. Terminado o desfile, uma grande preocupação para os integrantes e diretoria de Gigantes. Primeiro, pelo seus próprios erros e, segundo, pelo belo e grandioso desfile do rival Estudantes de São José, aclamado no final do desfile pelo público presente com os gritos de: "É campeão, é campeão".
Os ensaios no São Luiz Show, nas sextas.
O fato veio a se confirmar após o anúncio da comissão julgadora. Estudantes de São José, 412 pontos e Gigante do Samba, 394 pontos. A tristeza e a desolação tomou conta dos incrédulos integrantes de Gigante. O esperado tricampeonato não veio, mas, a Bomba do Hemetério não só foi tristeza, pois, o Caboclinhos Canindé foi campeão, superando Tabajaras e Carijós. O fato é que a Escola de Samba "Gigante do Samba" não foi poupada e no dia 17 de fevereiro de 1975, o grande colunista social, João Alberto em sua coluna publicou o seguinte comentário:
Gigante do Samba começou a perder o tricampeonato no dia em que uma divisão na sua diretoria fez com que o enredo anunciado – “Sesquicentenário do Diário”, fosse substituído por Olinda. Aquela querida escola cresceu muito, seus diretores ficaram com um rei na barriga e colocaram por terra o grande sonho. Faltou, principalmente, humildade, exatamente a grande arma de anos anteriores. Humildade que sobrou na Estudantes de São José, a grande campeã.
Logo em abril, os que fazem Gigante do Samba queriam realizar o sambão, isto é, comercializar a escola. O sucesso foi menor, bem menor, do que do ano passado. As grandes figuras na ligação com a imprensa, com a relações públicas Penha – Desapareceram, o negócio era faturar. Num desfile em homenagem ao nosso jornal, Gigante do Samba esnobou, não veio a pracinha do Diário.
No dia do desfile, depois de um grande atraso, a atitude desastrosa e grosseira de desfilar na rua da Imperatriz andando, como se ali fosse uma simples rua de bairro. A multidão, que ali estava a horas, esperando Gigante do Samba, foi esquecida, o esforço dos companheiros de uma emissora de televisão, ali instalada, não foram levados em conta. A apresentação de Gigante do Samba parecia um velório.
Além disso, é justo que se diga: Estudantes de São José se apresentou mil vezes melhor, fazendo jus à vitória. Foi a reconquista de um título, conseguido com muito esforço e, o que é mais importante, com muita humildade. Seu enredo sobre Casa Grande & Senzala estava muito bom. Uma ideia na comparação entre as duas escolas pode ser dada pela alegoria do chafariz, presente em ambas. Enquanto na Estudantes de São José era bem feita, jorrava água realmente, em Gigante do Samba não passava de um mal feito desenho.
Como torcedor de Gigante do Samba, fiquei triste com a derrota, mas espero sinceramente que ela tenha a grande virtude de levar a humildade de volta à Bomba do Hemetério. No caminho de volta, nós estaremos outra vez ao lado de Gigantes do Samba, que é grande, apesar da derrota. Uma derrota muito honrosa, afinal seria muito difícil vencer Estudantes de São José, tão bela foi sua presença na passarela.
No ano de 1976, Estudantes de São José conseguiu ganhar o bicampeonato com 328 pontos, contra 321 pontos de Gigante do Samba.

 Por: Jânio Odon/ BLOG VOZES DA ZONA NORTE
Fonte: Diário de Pernambuco.

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